domingo, 4 de maio de 2008

Dia Internacional do Coro da Madrugada

Para celebrar o Dia Internacional do Coro da Madrugada fui na boa companhia de Patrícia Rangel, Flávio Soffiati e Lucy Glenday até a Reserva Biológica Estadual de Guaxindiba, localmente conhecida como Mata do Carvão, localizada no extremo norte do Estado do Rio de Janeiro.

Ainda era por volta de 04:00 h e já estávamos na estrada rumo ao nosso destino. Às 05:20 h já havíamos chegado nas proximidades da mata e o farol do carro fazia refletir ao longe os olhos dos curiangos, Nyctidromus albicollis, pousados a beira da estrada. Quando chegamos na entrada da trilha o céu continuava escuro, mas os primeiros raios de sol já despontavam no horizonte.

As estrelas foram se apagando e pouco a pouco os cantos começavam a ecoar pela mata. Os chamados chiados e o apressado canto da corruíra, Troglodytes musculus, foram os primeiros sons a por fim ao silêncio da madrugada, acompanhados pela voz assobiada do garrinchão-pai-avô, Thryothorus genibarbis. O canto alegre da mariquita, Parula pitiayumi, entoado do alto das copas, as notas bem pronunciadas da choca-de-sooretama, Thamnophilus ambiguus, ecoando pelo subbosque, e os apelos melancólicos e repetidos da rolinha, Columbina talpacoti, logo se juntaram ao coro. Ouvimos ainda, não muito distante, o canto descrescente do inhambu-chintã, Crypturellus tataupa, e os chamados tímidos do guaracavuçu, Cnemotriccus fuscatus.

Com o microfone apontado para mata e o gravador a tira-colo comecei a gravar e novas espécies já haviam se juntado ao coro e toda a mata ecoava com a sinfonia da passarada. O vivite-de-olho-branco, Hylophilus thoracicus, cantava alto e repetido e ao longe podiam se ouvir os apelos roucos de alguns casais do ameaçado papagaio-chauá, Amazona rhodocorytha. Pouco depois, o barulho de um pica-pau batendo forte com seu bico contra o tronco de uma árvore a procura do café da manhã indicava que o dia havia mesmo começado.



Apesar de estarmos aqui no hemisfério sul em pleno período pós reprodutivo, época do ano em que a maioria das aves estão vocalmente menos ativas, não fomos decepcionados. Afinal, como bem sabia Gonçalves Dias, seja qual for a época do ano, "nosso bosques tem mais vida" por isso "as aves que lá gorjeiam não gorjeiam como cá".

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