quarta-feira, 19 de março de 2008

Qual a conexão entre algumas espécies de aves com anfíbios da família Dendrobatidae?

Dando continuidade a postagem de algumas fotos das minhas recentes visitas a Amazônia, segue a imagem de um belíssimo Dendrobates quinquevittatus flagrado no começo de fevereiro em Ariquemes, Rondônia. O bicho deu um certo trabalho para ser fotografado pois ao perceber que estava sendo observado tratava rapidamente de se esconder no meio de raizes ou embaixo do folhiço da mata, tanto que esse aí da foto foi o terceiro que encontrei, os anteriores simplesmente desapareceram sob os meus olhos, me deixando com aquela cara de bobo de "cadê o bicho??".
Não há como negar que anfíbios da família Dendrobatidae estão entre as criaturas mais interessantes do planeta. Se já não bastassem serem multi coloridos, parecendo terem sido pintados a mão (atenção não interpretar as últimas palavras como promotoras do Design Inteligente), sua biologia reprodutiva e as potentes toxinas presentes na sua pele tornam esses animais ainda mais fascinantes.
Os sapos-flechas, como são popularmente conhecidos, habitam as florestas tropicais da América Central e Norte da América do Sul. A maioria das espécies do grupo exibem um notório cuidado parental, característica que é considerada uma sinapomorfia do grupo. Em algumas espécies a fêmea deposita de três a cinco ovos, geralmente entre folhas no solo da mata, o macho ajuda no cuidado com os ovos mantendo-os úmidos até a eclosão. Após eclodirem os girinos são deliberadamente transportados um a um por um dos pais, em algumas espécies exclusivamentre pela fêmea em outras pelo macho ou então por qualquer um dos dois, até algum local com água, geralmente uma pequena cavidade em uma árvore ou a roseta de uma bromélia. Cada girino é colocado sozinho em sua piscina particular uma vez que muitas espécies são canibais. Enquanto se desenvolvem os futuros sapos são frequentemente visitados pela mãe que deposita um ovo infértil na água que serve de alimento aos mesmos, uma vez que algumas espécies são exclusivamente oófagas.
Aproximadamente um terço das espécies da família Dendrobatidae secretam poderosas toxinas através de glândulas na pele, três destas espécies eram tradicionalmente utilizadas por uma tribo indígena colombiana para envenenarem as pontas de suas flechas, fato que deu origem ao nome popular sapo-flecha. As espécies do gênero Phyllobates são considerados os vertebrados mais venenosos do planeta, título que lhes és garantido graças a um típico específico de toxina conhecida como batrachotoxina presente nestes animais, a qual curiosamente também é encontrada nas duas únicas espécies venenosas de aves, Pitohui dichrous e Ifrita kowaldi, que são endêmicas da Nova Guiné. A única coisa que se sabia sobre como sapos e aves conseguiam produzir uma toxina tão poderosa é que a mesma era adquirida através da dieta, uma vez que espécies de Phyllobates criadas em cativeiro não possuiam nenhum vestígio da substância venenosa . Recentemente um grupo de cientistas conseguiu isolar de alguns besouros do gênero Choresine habitantes das florestas da Nova Guiné a mesma batrachotoxina encontrada nos sapos-flechas e nas aves. Besouros deste mesmo gênero foram encontrados no estômago de Ifrita kowaldi, sugerindo que as aves adquirem as toxinas quando comem os besouros. O mais interessante é que Choresine é um gênero de besouros com distribuição cosmopolita, ou seja, encontrado em todo mundo, inclusive nas florestas da colômbia habitadas pelos Phyllobates, os quais supõem-se que adquiram a toxina do mesmo modo que as aves.
História contada e pergunta respondida, um besouro é a conexão entre aves da Nova Guiné e sapos-flecha colombianos.



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